Ekôa Park, parque de experiências ecológicas em Morretes, já recebeu mais de 70 empresas e cerca de três mil pessoas para formações de organizações, buscando na inteligência da natureza inspirações para trabalhar competências e resolver problemas do dia a dia corporativo. Atividades que podem ajudar as equipes a terem mais eficiência são personalizadas para necessidades das companhias e expectativa do mercado é de crescimento
Foto: Albori Ribeiro
Você já ouviu falar em biomimética? O termo vem do grego “bio” (vida) e “mimeis” (imitação) e faz referência ao uso da lógica da interação entre os seres vivos e das dinâmicas da natureza aplicadas a diferentes tipos de negócios. A ideia vem crescendo no mundo, e já chega com força também ao Brasil.
O conceito se popularizou mais nos anos 1990, quando, ao lançar o livro Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza, em 1997 nos Estados Unidos e em 2003 no Brasil, Janine Benyus, bióloga norte-americana foi responsável por propagar a ciência que se desdobra em múltiplas aplicações. Ela foi uma das fundadoras do Biomimicry Institute, em Montana, EUA.
Antes disso, o termo em inglês, biomimetics, já havia surgido em 1950, com o acadêmico norte-americano Otto Schmitt para descrever a transferência de ideias da biologia para a tecnologia.
A natureza como solucionadora de desafios humanos
O grande diferencial da biomimética é ser capaz de reconhecer a sabedoria acumulada por mais de 3,8 bilhões de anos pela natureza e reconectar-se a ela para solucionar os mais diversos tipos de problemas e desafios humanos, em múltiplas áreas.
O conceito não se aplica apenas à ciência, mas a áreas como engenharia, arquitetura, medicina, aeronáutica, tecnologia, design, mobilidade urbana, produção de energia limpa e até em setores sociais, econômicos e de gestão.
Até hoje, já foram pensadas no mundo tecnologias interessantes, como revestimentos autolimpantes que funcionam como as folhas da flor de lótus, plástico que se autorregenera como pele humana, fibras mais resistentes que o nylon, inspiradas nas teias de aranha, lâmpadas de LED baseadas na radiação da luz dos vagalumes e adesivos super aderentes, inspirados nas microestruturas dos filamentos das patas das lagartixas, por exemplo.
Até a adaptação de um trem-bala japonês, na qual engenheiros encontraram uma solução para que ele fizesse menos barulho ao transitar – inspirada no bico do martim-pescador, um pássaro que mergulha em alta velocidade para apanhar comida quase sem fazer barulho ou espirrar água – já foi feita. O bico da ave consegue “furar” a resistência do ar e sua ergonomia reduz o volume do som quando ele está em voo.
Quando a natureza ensina sobre eficiência nos negócios
No caso do mundo corporativo, a natureza também tem muito a ensinar sobre liderança, comunicação, colaboração, escuta e eficiência.
O Ekôa Park, um parque de experiências ecológicas voltado à educação ambiental, conservação do meio ambiente e conexão com a natureza, está localizado em Morretes, no litoral do Paraná, e soma quase 240 hectares do bioma Mata Atlântica.
Foi idealizado em 2014 para promover o alinhamento de propósitos entre as pessoas e a natureza e já é referência na realização de eventos corporativos e programas de desenvolvimento profissional. Agora, vem se tornando na área da biomimética.
Tatiana Perim, fundadora e CEO do espaço, conta que, cada vez mais, o Ekôa é procurado por empresas de vários segmentos para eventos corporativos e programas de desenvolvimento profissional. E os conceitos da biomimética, ela explica, prometem enriquecer ainda mais a agenda pensada pelo espaço para propor às empresas diferentes dinâmicas e atividades inspiradas nos ensinamentos da natureza.
O parque fica dentro da Grande Reserva Mata Atlântica, um território que compreende a maior faixa contínua de Mata Atlântica, com quase três milhões de hectares, entre Paraná, Santa Catarina e São Paulo. “Cada momento que pensamos para as empresas é único e elaborado para a necessidade de cada uma, considerando seus negócios, expectativas e áreas de atuação”, destaca Tatiana.
“A programação pode incluir dinâmicas inspiradas na biomimética, atividades de sustentabilidade ou de aventura, de acordo com os objetivos da empresa. Adaptamos a agenda às preferências dos clientes. A maioria dos nossos eventos corporativos é voltada para o desenvolvimento de equipes, com uma programação intensa e objetivos claros para trabalhar integração, colaboração, inovação, comunicação e/ou liderança”, diz.
A partir do entendimento de cada expectativa, ela conta, são feitas reuniões de briefing com o cliente para um maior aprofundarmos nas questões a serem trabalhadas, as problemáticas e os desafios a serem resolvidos. “Também buscamos um maior entendimento da linguagem que utilizam, além de aspectos envolvendo a cultura e o propósito da marca. Com isso, podemos direcionar as dinâmicas para abordar de forma cirúrgica aquilo que realmente precisa ser trabalhado em cada grupo. A ideia é descobrir como a biomimética se relaciona com o desafio de cada companhia e trazer as soluções que ela e as equipes precisam”, diz.
Tatiana, que é formada em Comunicação e Marketing pela University of Miami, com dupla titulação em Fotografia e especialista em Business pelo INSPER de São Paulo e em Gestão Ambiental pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), já foi secretária de Meio Ambiente, Urbanismo, Turismo e Cultura de Morretes e concluiu agora uma masterclass de biomimética pelo Biomimicry Institute, cujo objetivo é ajudar pessoas a aprender com a natureza para projetar produtos, processos e políticas sustentáveis em resposta a problemas do mundo real.
“Em 2019, fiz um curso instrutório de biomimética. Depois, mergulhei nessa temática de forma quase que obsessiva. Li diversos livros, artigos, utilizei muito uma ferramenta que ganhou diversos prêmios chamada ‘Ask Nature’, que reúne vários modelos e sistemas do mundo natural para nos inspirarmos a “biologizar” e resolver problemas humanos e, agora, meu próximo objetivo é fazer um Mestrado em biomimética”, projeta Tatiana.
De 2019 para cá, desde quando as vivências em biomimética passaram a ser abertas para empresas, o Ekôa já recebeu mais de 70 empresas e cerca de três mil pessoas para as formações. Para eventos corporativos, mais de 90 empresas e em torno de cinco mil profissionais já passaram pelo local.
Entre as corporações que já realizaram vivências corporativas no local estão Electrolux, Volvo, Renault, General Motors, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Grupo Boticário, Cattalini, Conseg Consórcios, Grupo Arotubi, Nutrimedical, Nutriclin, Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Beto Madalosso, Cargill, Restaurante Manu, CBRE, EBANX, SESC, SEBRAE, Sumitomo, entre outras.
“Estamos cada vez mais capacitados a oferecer às empresas atividades inspiradas na genialidade da natureza, a fim de promover ações colaborativas, buscando um benefício mútuo, tal qual feito pela Micorriza, por exemplo, as associações mutualistas que acontecem entre fungos e as raízes da maioria das plantas”, diz a empresária.
“Na dinâmica do ‘Jogo da Vida’ que fizemos com uma das companhias que já participou de um evento corporativo no Ekôa, ao final, os participantes construiram um terrário [um recipiente onde se reproduzem as condições ambientais necessárias para a vida de diferentes seres vivos]. Ele representa um grande sistema colaborativo, com suas partes independentes, porém interconectadas, que incorpora a diversidade e usa de forma eficiente a energia do todo. Esse terrário inda hoje é carregado de sala em sala na empresa para relembrá-los da importância de aplicarem no dia a dia o que vivenciaram no Ekôa e o que aquele pequeno mundo representa em termos de integração, colaboração e construção”, lembra.
Outro case de sucesso, ela recorda, gerou em outra empresa efeitos tão profundos que, até hoje, eles chamam seus departamentos de “ecossistemas”, e buscam criar estratégias de negócios para conectar o que também chamam de “fragmentos de floresta”. “Eles incorporaram os conceitos biológicos dentro da companhia para promoverem o real entendimento da importância de conectar núcleos de trabalho em regiões distintas para não perderem talentos, tecnologia e inovação”, destaca Tatiana.
Inovação obrigatória e responsabilidade socioambiental
De acordo com informações do Instituto Fermaniano de Negócios e Economia da Point Loma University (THE GUARDIAN, 2015), até 2030, as inovações “bioinspiradas” podem ser capazes de gerar US$ 1,6 trilhão de PIB em todo o mundo.
Segundo o The Guardian, 89% das empresas Fortune500 de 1955 já não existiam mais em 2014. Já de acordo com a empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil, o futuro da maioria das startups no Brasil, por exemplo, é a morte. Isso porque, de acordo com a entidade, nove em cada dez empresas do tipo acabam no país por apostarem em negócios que se baseiam apenas em sua experiência pessoal para criar um produto ou serviço e não resolvem necessariamente um problema real do mercado e dos consumidores. Falta de dinheiro e problemas com a equipe estão em segundo e terceiro lugares, respectivamente.
Em uma época em que o conceito de ESG (que envolve preocupações ambientais, sociais e de governança), em que temas como escassez de recursos, novas tecnologias e proteção e conservação ambiental crescem – e antigas formas de gestão e negócios não apresentam as soluções necessárias para os desafios da atualidade – a biomimética é capaz de não só permitir às empresas reduzir custos e conquistar a melhoria dos processos, como melhorar a condição de trabalho e o desempenho e a integração de seus profissionais.
Tatiana destaca que as empresas estão desaparecendo mais rápido do que nunca. E as que têm capital aberto têm uma chance em três de serem fechadas nos próximos cinco anos, seja por falência, liquidação, fusões e aquisições ou outras causas. “Isso é seis vezes a taxa de fechamento de empresas há 40 anos”, diz ela.
“O aumento da mortalidade se aplica independentemente do tamanho, idade ou setor. Nem a escala nem a experiência protegem uma empresa contra uma morte prematura, mas acredito que as empresas estão morrendo mais jovens, porque não conseguem se adaptar à crescente complexidade de seu ambiente”, diz.
Ela recorda que as organizações de hoje são construídas para um mundo linear: hierárquico, centralizado, fechado, de cima para baixo e com foco na maximização. “Há pelo menos cem anos, vivemos uma era de economias de escala e relativa estabilidade e previsibilidade. Nosso ambiente está mudando exponencialmente, impulsionado por tecnologias exponenciais e pela globalização. Pensar linearmente pode custar caro para empresas, governos e indivíduos. Por outro lado, podemos direcionar o futuro para um que ele mescle o melhor da inteligência humana com o melhor da genialidade da natureza”, defende.
“Li algo que Steve Jobs bem colocou e muito me marcou: ‘Acho que as maiores inovações do século 21 estarão na interseção da biologia e tecnologia. Uma nova era está começando’. Eu concordo, e convido as empresas que também enxergam sentido nisso a trabalharem conosco”, conclui.
As inscrições para as experiências corporativas inspiradas na biomimética podem ser feitas pelo e-mail: reservas@ekoapark.com.br.