Foto: Albori Ribeiro
O mês de abril lembrou, dia 15, o dia Nacional da Conservação dos Solos. Antes de ele encerrar, convido o leitor ou a leitora e refletir que a data nos estimula a lembrar que o Brasil é um país vasto e diverso, mas que enfrenta as consequências de diferentes desastres naturais em suas várias regiões. Desde inundações a deslizamentos de terra, o país lida com uma variedade de eventos climáticos que podem causar grandes prejuízos à suas comunidades. E por que precisamos pensar nisso?
Porque a extensão e a gravidade desses desastres, muitas vezes, são exacerbadas pela degradação ambiental causada pela atividade humana. Quando as florestas são destruídas ou degradadas devido ao desmatamento, à urbanização desordenada, exploração madeireira não sustentável e outras atividades humanas, os impactos são sentidos em cascata. A perda de habitat resulta na diminuição da biodiversidade, levando ao declínio de espécies animais e vegetais, deixando o solo exposto e suscetível à erosão, compactação, poluição e à degradação. O solo saudável é essencial para a produção de alimentos, a manutenção da biodiversidade e a regulação do ciclo hidrológico. No entanto, o solo está sob ameaça devido ao desmatamento, urbanização e mudanças climáticas.
A conservação do solo envolve práticas que visam proteger sua estrutura, fertilidade e biodiversidade. Isso inclui a adoção de técnicas de agricultura sustentável, agroflorestas e uso de cobertura vegetal, que ajudam a reduzir a erosão, melhorar sua qualidade e aumentar a capacidade de retenção de água. Além disso, medidas de conservação, como reflorestamento, controle da expansão urbana desordenada e regulamentação do uso da terra, são essenciais para proteger áreas sensíveis e frágeis.
O Ekôa Park, parque de experiências ecológicas localizado em Morretes, no litoral do Paraná, participa desde 2018 de um projeto que busca mitigar o problema do desmatamento da Mata Atlântica, chamado “Salvando Árvores da Extinção” (Un-Endangered Forest, em inglês). Ele é resultado de uma parceria estabelecida entre Porto Morretes e Novo Fogo com o Instituto Hórus e o Ekôa Park e tem por objetivo aumentar a presença de árvores raras ou ameaçadas de extinção na paisagem litorânea, na Floresta Atlântica, com foco em espécies que foram intensamente exploradas no passado, principalmente, para uso madeireiro.
As florestas do Ekôa são utilizadas como local para os especialistas encontrarem frutos e sementes das espécies matrizes, ricas em material genético. E as sementes são beneficiadas e cultivadas no viveiro do local, até que as mudas estejam prontas para serem doadas, plantadas e devolvidas à floresta. Até agora, já foram marcadas no Ekôa 518 árvores matrizes, coletadas 29.592 sementes e distribuídas 3.847 mudas, cultivadas desde 2018 no local. Além disso, mais de duas mil mudas também já foram registradas pela rede de plantadores no aplicativo disponível para eles, que garante o controle desses plantios. Fazem parte da rede 91 plantadores, com expectativa de crescimento anual. E são 50 as espécies raras, endêmicas ou ameaçadas de extinção focos do programa.
Esse projeto só é possível ser implementado em uma floresta madura, que atingiu um estágio intermediário para avançado de desenvolvimento ecológico, pois são espécies que precisam de uma condição em que já se tem uma boa cobertura de serrapilheira, de matéria orgânica, onde já existe sombreamento suficiente para poderem sobreviver. Portanto, o plantio dessas espécies entra no enriquecimento da biodiversidade, na construção da estrutura da floresta madura, na formação de um terceiro e quarto extrato da vegetação. Isso trará mais estabilidade para o bioma, com menos problemas de erosão e com mais cobertura vegetal que durante uma chuva tropical, por exemplo, essa vegetação poderá conter mais da metade do volume da água. Ou seja, uma grande contribuição para evitar processos erosivos, principalmente em áreas íngremes e áreas sujeitas ao deslizamento de terra.
Isso significa que à medida em que a floresta melhora sua estrutura, ela tende a fornecer uma proteção mais eficaz para o ecossistema. Uma floresta em fase inicial, terá um extrato arbóreo. Já a fase intermediária, terá dois extratos arbóreos, e na medida em que ela avança de fato, que é neste momento em que essas espécies raras são plantadas, ela vai para um terceiro extrato arbóreo, possibilitando a proteção contínua do solo, dos ecossistemas, da biodiversidade e das comunidades que dependem delas.
Portanto, a conservação de florestas maduras é crucial para garantir a saúde do solo, dos ecossistemas, a segurança alimentar, a mitigação das mudanças climáticas e o bem-estar humano. Isso requer um esforço conjunto de governos, organizações não governamentais, comunidades locais e indivíduos para promover práticas de manejo sustentável, proteger áreas naturais e restaurar ecossistemas degradados.
Ações coordenadas e sustentadas são essenciais, como a iniciativa da Grande Reserva Mata Atlântica, que surge como uma proposta de trabalho em rede, e que busca a valorização e conservação de áreas naturais preservadas, e programas como o “Salvando Árvores da Extinção”, do Ekôa Park. Projetos como esses, e as pessoas que os integram, oferecem a possibilidade para que as florestas e os solos continuem a desempenhar seu papel vital na sustentabilidade do nosso planeta.
Artigo escrito por Tatiana Perim, formada em Comunicação e Marketing pela University of Miami, com dupla titulação em Fotografia, especialista em Business pelo INSPER São Paulo e Gestão Ambiental pela UFPR, tem mais de 15 anos de experiência em empresas como a VIACOM e Discovery Networks nos Estados Unidos e no Brasil. Em 2014 idealizou o Ekôa Park, um parque de experiências ecológicas voltado para educação ambiental, conservação do meio ambiente e conexão com a natureza, localizado na maior faixa contínua de Mata Atlântica, em Morretes, no litoral do Paraná. O Ekôa abriu suas portas em 2018 e atende visitantes aos finais de semana e grupos corporativos e escolares durante a semana. Tatiana esteve também por um ano e meio como Secretária de Meio Ambiente, Urbanismo, Turismo e Cultura no Município de Morretes e atualmente é integrante da Rede de Portais da Grande Reserva Mata Atlântica.